sábado, 8 de novembro de 2008

O chamamento do Si Mesmo: a história de Inanna


Há pessoas para as quais a descida ao mundo subterrâneo pode começar com a morte de um dos pais, um processo iniciático que não pode ser impedido, ou com a morte de um ser amado, na sequência da qual nos sentimos perdidos. Ou pode ocorrer através de um encontro com a violência, que põe em causa os nossos ideais e esperanças. Se a perda é demasiado forte ou a desilusão demasiado profunda, o chamamento tem hipóteses de ser ouvido e temos a oportunidade de descobrir o que pretende que façamos.
Em termos psicológicos, a descida às profundezas implica o descartar das imagens infantis do nosso passado pessoal. Trata-se, simultaneamente, de um despertar psicológico e de uma iniciação espiritual.O encontro com a sombra é sempre um processo iniciático. Não podemos levar a personagem conosco quando vamos ao encontro do Si Mesmo. O tema da morte egóica do viajante interior e da sua ressurreição espiritual permeia toda a história humana. No mais antigo relato de que há memória, e que nos vem da Suméria, Inanna, Rainha do Céu, efetua uma árdua viagem até ao mundo subterrâneo.
Em primeiro lugar, Inanna deixa a sua família e tudo o que é confortável e familiar. À medida que se aproxima dos sucessivos portões que conduzem ao mundo subterrâneo, vai abandonando um atributo precioso: o seu papel de rainha, o seu poder régio, o seu poder sexual, cada um deles simbolizado por um objecto, seja uma coroa, um colar, um adorno, um anel de ouro ou um manto real. Na sua nudez, sem os seus poderes, Inanna está tão desamparada como uma criança.
Por fim, Inanna encontra a sua irmã, Ereshkigal, rainha do mundo subterrâneo, que come barro, bebe água suja e não tem formas de se proteger da sua natureza instintiva. Ereshkigal é depositária de sentimentos primários – raiva, ambição, sofrimento – e, tal como a deusa hindu Kali, devora e destrói coisas, o que permite que novas coisas se possam gerar e nascer. Ao ver Inanna, fértil e bela, Ereshkigal fica cheia de inveja, transforma a irmã num cadáver e pendura-o numa parede, como se tivesse sido crucificado.
O encontro mitológico de Inanna com a sua irmã sombra, o seu alter-ego odiento, inspira terror e submissão. Inanna confronta-se com a indiferença, cheia de raiva daquele lado que, algures no nosso interior, se senta no trono e lida com a morte.
O encontro destes dois lados é um acontecimento arquetípico. Esse encontro equivale à morte do ego ideal. O encontro com a fera obriga-nos a pôr de lado orgulho, virtude e beleza. Ou engolimos o nosso oposto ou somos engolidos por ele. Neste processo alquímico, pode dar-se o nosso renascimento.
Se já efetuamos uma descida ao mundo subterrâneo, quem encontramos no fundo do abismo? Que forma assumiu o nosso desmembramento?
O que permitiu o nosso renascimento?

Com certeza,a vontade de viver.

Esse texto,eu dedico a minha mãe Lena,
que como Inanna,conheceu o mundo subterrâneo,
mas com enorme coragem e bravura,renasceu.


Te amo,mãe.

Te amo,Inanna.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Oração a mãe terra


Abençoado seja o Filho da Luz que conhece sua Mãe Terra,
Pois é ela a doadora da vida.
Saibas que a sua Mãe Terra está em ti e tu estás Nela.
Foi Ela quem te gerou e que te deu a vida,
E te deu este corpo que um dia tu lhe devolverás.
Saibas que o sangue que corre nas tuas veias
Nasceu do sangue da tua Mãe Terra.
O sangue Dela cai das nuvens, jorra do ventre Dela,
Borbulha nos riachos das montanhas,
Flui abundantemente nos rios das planícies.
Saibas que o ar que respiras nasce da respiração da tua Mãe Terra.
O alento Dela é o azul celeste das alturas do céu
E os sussurros das folhas da floresta.
Saibas que a dureza dos teus ossos foi criada dos ossos de tua Mãe Terra.
Saibas que a maciez da tua carne nasceu da carne de tua Mãe Terra.
A luz dos teus olhos, o alcance dos teus ouvidos,
Nasceram das cores e dos sons da tua Mãe Terra,
Que te rodeiam feito as ondas do mar cercando o peixinho,
Como o ar tremelicante sustenta o pássaro.
Em verdade te digo, tu és um com tua Mãe Terra,
Ela está em ti e tu estás Nela.
Dela tu nasceste, Nela tu vives e para Ela voltará novamente.
Segue portanto as suas leis,
Pois teu alento é o alento Dela,
Teu sangue o sangue Dela,
Teus ossos os ossos Dela,
Tua carne a carne Dela,
Teus olhos e teus ouvidos são Dela também.
Aquele que encontro a paz na sua Mãe Terra,
Não morrerá jamais.
Conhece esta paz na tua mente,
Deseja esta paz ao teu coração,
Realiza esta paz com o teu corpo.

Evangelho dos Essênios

Quando me amei de verdade

Quando me amei de verdade compreendi que, em qualquer circunstância, eu estava no lugar certo, na hora certa, no momento exato... E então, pude relaxar... Hoje sei que isso tem nome: auto-estima. Quando me amei de verdade, pude perceber que a minha angústia, meu sofrimento emocional, não passa de um sinal de que estou indo contra as minhas verdades... Hoje sei que isso é ser: autêntico.
Quando me amei de verdade, parei de desejar que a minha vida fosse diferente e comecei a ver que tudo o que acontece contribui para o meu crescimento... Hoje chamo isso de: amadurecimento.
Quando me amei de verdade, comecei a perceber como é ofensivo tentar forçar alguma situação ou alguém apenas para realizar aquilo que desejo mesmo sabendo que não é o momento ou a pessoa não está preparada, inclusive eu mesma... Hoje sei que o nome disso é: respeito.
Quando me amei de verdade, comecei a me livrar de tudo que não fosse saudável... pessoas,tarefas, crenças, tudo e qualquer coisa que me pusesse para baixo... De início, minha razão chamou essa atitude de egoísmo... Hoje sei que se chama: amor-próprio!!!
Quando me amei de verdade, deixei de temer meu tempo livre e desisti de fazer grandes planos, abandonei os projetos megalômanos de futuro. Hoje faço o que acho certo, o que gosto, quando quero e no meu próprio ritmo... Hoje sei que isso é saber viver a vida INTENSAMENTE.
Quando me amei de verdade, desisti de querer ter razão sempre e, com isso,errei muito menos vezes... Hoje descobri a humildade.
Quando me amei de verdade, desisti de ficar revivendo o passado e de me preocupar com o futuro. Agora, me mantenho no presente, que é onde a vida acontece... Hoje vivo um dia de cada vez plenamente.
Quando me amei de verdade, percebi que a minha mente pode me atormentar e me decepcionar... Mas quando eu a coloco a serviço do meu coração, ela se torna uma grande e valiosa aliada."

(Kim e Alison Mcmillen)

"A coisa que é difícil,
e realmente incrível,
é desistir de ser perfeito
e começar o trabalho
de se tornar
si próprio"


Anna Quindlen